Meridianos & Paralelos
Um blog de notícias alinhavadas quase sempre à margem das notícias alinhadas
quarta-feira, julho 28, 2004
TUDO AO MESMO TEMPO
Foto de R. Lemmon Posted by Ana M.C.
O número dois do Governo, agora Primeiro Ministro substituto já no exercício de funções, apareceu hoje na Assembleia da República com ar de pânico suplicante, qual garoto a pedir a simpatia para a sua incapacidade de fazer face a uma "horta" tão grande. Dizia ele nos telejornais da noite do seu desespero: «(...) como se não bastasse uma pessoa tentar controlar uma situação incontrolável, há fogos a deflagrar todos ao mesmo tempo.»... Que diremos nós, então! Que diremos nós, Sr. Primeiro Ministro substituto: não nos bastava o País a arder, ainda temos que assistir ao flagelo de um Governo queimado!... É que Portugal é uma quinta mas mesmo assim não se confina ao Estádio de Alvalade, nem à Figueira da Foz ou à Câmara Munícipal de Lisboa!... É bom não lhe substimar a grandeza e a dimensão. Não sei qe ventos serão piores, se os que vêem do deserto e reacendem os fogos dados como extintos, se os que sopram da aflição do Sr. Lopes. Em dois anos à frente da cidade de Lisboa nunca o vi tratar dos canteiros. Presumo que dificilmente será de esperar que saiba agora tomar conta das florestas!... E lá foi ele, noticiários fora, a tropeçar na lenha e nos gravetos soltos que tornam a mata tão traiçoeira, longe (tão longe!) da eloquência mediática de comentador de serviço e dos anos aureos de «Os Donos da Bola»... Vejo-o hoje «reconhecer» que o Governo anterior (o seu, portanto!) deixou «muito por fazer». Imagino como lhe deve ter sido difícil. Mas há momentos em que «reconhecer» até vem mesmo a calhar: serve para empurrar a responsabilidade para outras bandas, como quem não quer a coisa... Sim, porque «reconhecer» até costuma ser visto como uma grande virtude de personalidade e sempre é mais levezinho do que assumir o desnorte de quem não tem a mínima ideia do que fazer para «controlar tantos fogos». Imagino que nem valha a pena perguntar ao actual Primeiro Ministro, ex- número dois do partido no Governo como é que se explica o que resulta do cruzamento deste documento com este!... A 31 de Outubro do ano passado, reúne o Conselho de Ministros e, conforme deixa escrito, dá-se conta que:« A violência e a extensão dos incêndios do último verão e o dramatismo das situações vividas pelas populações atingidas, geraram na sociedade portuguesa justificada emoção e apoio quanto à necessidade de se alterar profundamente a nossa relação com floresta.» Empurrado pelo rescaldo desolador de um Verão incendiário, faz o seguinte diagnóstico da realidade: «A ausência de gestão florestal, o excessivo parcelamento fundiário, os desequilíbrios na constituição dos povoamentos, o desordenamento da sua implantação e o abandono a que se encontram votadas extensas áreas florestais, conjugados com circunstâncias climatéricas, particularmente adversas e raras, associadas a comportamentos negligentes e criminosos, determinaram a violência e a extensão de tais incêndios.» Diz-se então «consciente da necessidade de agir de forma concertada no sector da floresta», toma em Resolução a "Reforma Estrutural do Sector das Florestas" e decide criar uma Secretaria de Estado especialmente para o efeito, a saber: «coadjuvar na definição e implementação de um novo modelo para a organização florestal, pondo termo à dispersão e desadequação do actual enquadramento do sector, por forma a concretizar, nomeadamente, as opções fundamentais contidas na Lei de Bases da Política Florestal, aprovada por unanimidade.»
Mais se diz que a resposta a "estas carências" cumpre o próprio Programa do Governo e os dois grandes objectivos por ele enunciados: a definição «de uma responsabilidade coordenada» e «a diminuição do número de decisores relacionados com a fileira».
É sabido que o Sr. Lopes nunca foi bom a responder quando as perguntas atingem outro grau de dificuldade. Também é sabido que já «reconheceu» que «muito ficou por fazer» e que só herdou o trono há dias. Ainda assim, a partir de agora é bom que não esqueça que as contas do Verão de 2004 já não serão pedidas ao ex-número um e ex-Primeiro Ministro, Sr. Barroso. É que com o trono herdam-se as responsabilidades inerentes. É chato, mas nenhum lugar é perfeito. O Sr. Lopes já o devia saber dos tempos que andou pelo Estádio de Alvalade.